Artist’s Statement

Como artista, mergulho nas intricadas ruas do Rio de Janeiro, inspirado por uma profunda reflexão sobre o olhar fotográfico e a construção do imaginário urbano. Minha pesquisa vai além dos limites tradicionais da fotografia, explorando a fusão de elementos visuais, escultura e intervenção. Ao problematizar o olhar, busco desvendar as dimensões de criação de imaginários afrobrasileiros nas paisagens urbanas, tornando esse processo intrínseco à reestruturação do espaço. Foco nas memórias muitas vezes esquecidas da cidade malandra, desempenhando um papel vital na tessitura cultural. O conceito de “cruzo” torna-se central em minhas propostas visuais, encruzilhando linguagens e desafiando as fronteiras convencionais da representação visual. Cada peça é uma expressão híbrida que vai além do dispositivo fotográfico, buscando intuir conceitos malandros.

No cerne dessas criações, minhas obras transcendem o visual, oferecendo uma experiência sensorial que convida o espectador a explorar as camadas profundas da cultura da rua. Palavras-chave como “encruzilhar”, “ginga”, “malandragem” e “cidade” não são apenas termos isolados, mas fios condutores que tecem minha narrativa visual. Cada obra é um convite para mergulhar nas interseções entre a estética e a cultura, revelando uma visão única das ruas, enraizada na tradição, mas vibrante com a energia da reinvenção.

O meu processo consiste em trabalhos fundamentados nestes conceitos e no baixo materialismo na arte, estabelecendo uma profunda conexão com o cotidiano carioca, especialmente por meio da incorporação de objetos comuns nas criações. Esses itens, ultrapassam sua simplicidade material para se converterem em reservatórios de memórias populares e fundamentos de relações sociais que articulam a essência da vida urbana. Tal percepção dos valores estéticos desafia as normativas convencionais da arte e exalta a beleza encoberta na simplicidade e nas vivências cotidianas. A centralização desses objetos em minha prática artística não somente democratiza o acesso à arte, mas também entrelaça referências pessoais e históricas, evidenciando a intrincada complexidade existente no ordinário.