Além das capas, compus-me em música

As capas de álbum desses grandes artistas foram meu primeiro contato com o imaginário do samba, e consequentemente a do malandro. O projeto “Além das capas, compus-me em música”, desenvolvido no período de 2020 a 2023, período coincidente com a pandemia da COVID-19, emergiu através da técnica do autorretrato fotográfico. Esta forma de expressão não apenas me proporcionou uma nova perspectiva sobre mim, mas também destacou suas diversas manifestações. Desde a encenação até a despersonalização irônica na imagem, a minha exploração do autorretrato, no contexto da fotografia, teve início com a pesquisa sobre como utilizar esta arte para autorrepresentação, engajando-se com a temática da malandragem. A minha análise processual se aprofundou na minha encenação, iluminando a intrincada tapeçaria da identidade de sambistas e de malandros dentro da fotografia.

Durante este processo, percebi que a produção de autorretratos, utilizando capas de vinil, transcendeu a simples ação de posicionar-me diante da câmera. Monto um estúdio caseiro, onde construo, desconstruo e exploro diferentes facetas de mim mesmo. Esta atuação se torna uma ferramenta deliberada para revelar ou ocultar aspectos da minha identidade, manipular a percepção do observador e desafiar as convenções de autenticidade. A escolha de roupas do meu próprio armário se torna um ato de exploração pessoal, onde cada peça de vestuário não é apenas um adereço, mas uma extensão da história que desejo contar através das minhas capas. Com a câmera virada para o meu rosto, posicionada em um tripé e com o timer controlado, cada sessão de fotos é acompanhada pela música da capa do álbum que será criado, guiando o ritmo das fotos produzidas. Através desse processo, cada imagem que monto não é apenas uma representação do mundo da malandragem e da música, mas também de quem sou, moldado pelos sambistas e pelas suas histórias. Essa despersonalização emergiu como uma estratégia particularmente fascinante no meu processo de autorrepresentação. Em vez de enfatizar a minha individualidade, essa abordagem refletiu minha inquietação com a rigidez das identidades, propondo, assim, uma perspectiva mais irônica sobre mim mesmo.

2020 – 2024